Priscilla | Crítica

Pedro Antonio
3 min readJan 18, 2024

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Elvis Presley é uma figura cercada por extravagância. Todo o legado do astro do pop, que foi o artista de maior sucesso entre as décadas de 1950 e 60, está envolto em performances extravagantes e um estilo de vida excêntrico. Não à toa Baz Luhrman foi o autor perfeito para conduzir sua cinebiografia, o diretor já experiente por Moulin Rouge! e O Grande Gatsby sabe dar a grandeza que aquele lado da história merecia.

Para contar o outro lado, porém, e invertendo completamente essa ideia, vem Sofia Coppola e seu intimista Priscilla, centrado na esposa de Elvis e sua problemática relação com o rei do pop. Para a câmera de Sofia, não importam as multidões, os números musicais extravagantes e os trejeitos mais afetados pelos quais o artista ficou marcado, o foco é Priscilla normalmente reclusa em ambientes domésticos, com tom de voz baixo e extremamente pequena em relação a tudo ao seu redor.

Jacob Elordi como Elvis e Cailee Spaeny como Priscilla (Foto: A24/Divulgação)

Essa talvez seja o adjetivo principal para se entender a Priscilla de Sofia Coppola, ela é pequena. A protagonista vivida por Cailee Spaeny é sempre filmada de tal forma a parecer minúscula quando em cena com o Elvis de Jacob Elordi com seus mais de 1m 90cm, o que torna a diferença de idade de 10 anos entre os personagens muito mais visual do que textual, graças também à incrível caracterização que faz com que Spaeny não tenha qualquer problema em parecer uma adolescente mesmo aos 24 anos de idade na época das filmagens.

A atenção a perspectiva não é apenas em relação à figura de Elvis, mas a todo o seu mundo. Quando com seus pais, Priscilla vive em uma casa pequena e aconchegante onde de um cômodo é possível ver o outro, mas uma vez no mundo do cantor e ator, tudo ali é maior que ela, sua nova sala de estar é maior do que sua antiga casa inteira e tudo ali contribui para essa imagem diminuta da personagem. Conforme os anos se passam, Priscilla não parece mais experiente e sim mais indefesa contra tudo que a envolve, perdida, apagada, pequena.

Priscilla em Graceland (Foto: Sabrina Lantos)

Tudo que poderia representar um voo de liberdade para a personagem, a saída da casa dos pais, sua formatura, um carro, só a torna mais dependente de Elvis, a história dos dois vai se tornando cada vez mais interligada até, após vários momentos de crise, não estar mais. Na narrativa de Sofia Coppola, esta Priscilla não existe sem Elvis, o filme só é quando os dois são e no momento que há a ruptura entre os dois, sem cerimônia ou clímax, a diretora corta e declara com isso: “Minha Priscilla acaba aqui”. A mulher que se faz a partir dali fica no mundo real, no imaginário do espectador, até que outro autor dê sua versão dessa história.

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Pedro Antonio

Apaixonado por filmes, viciado em livros, consumidor voraz de batata frita. Jornalista, professor e sonhador nas horas vagas